18.7.12

Underground


O Metrô é a maior manifestação de 'urbanidade' por todo o mundo. Quando se trata do da maior cidade do mundo, passa a ser quase que uma entidade, uma instituição que une o sujo ao funcional, a arte ao medo, e aglomerações à individualidade.

Metrô de cada cidade reflete um pouco do que se passa alguns metros acima das cabeças dos passageiros, assim como as estações mostram um pouco do que o governo pode ter a dizer e principalmente a ouvir, assim como os publicitários.

O sonho do artista que queria mudar pro hemisfério norte e viver de fazer música nos corredores gelados das grandes urbes, era quase que o próprio paradoxo da geração beat que não queria só ver o trem passar, e sim pular em um vagão sem saber por onde vai.
O que aconteceu com os artistas de metrô?


Toda a simbologia do metrô já foi, inclusive, assunto de teorias sobre o funcionamento da contemporaneidade, em que a sociedade é o próprio passageiro que pega influências de cada estação por onde passa, sem saber muito bem pra onde vai nem de onde vem, muito menos em que linha está, e acaba por ser um grande mix arquetípico.

O comportamento dos cidadãos em cada cidade é desenhado de forma excepcional em cada vagão do metrô. Como é aquele povo, seja no estilo, seja na personalidade, nos hábitos, nos assuntos entreouvidos por aí e principalmente na educação e na polidez - quando há alguma.

Os mapas da rede metroviária são quase quadros de pop art e por vezes já foram vistos assim.




Metrô é um hobby.
E um ótimo lugar pra colocar a leitura em dia - quando é possível sentar.
O site Underground New York Public Library justamente posta fotos das pessoas lendo no metro de NY...

Algum hábito excêntrico no subsolo?

4.5.12

Outonália Mixtape


Depois de passar uns bons dias ouvindo Bon Iver, entendi que manhãs de Outono precisam de músicas muito específicas, e que o mood da semana merecia uma mixtape, há muito prometida.

A mixtape em questão é uma mistura de estilos que, ao meu ver combinam entre si, beiram o folk e indie, trip hop.


16.4.12

Pra não dizer que não falei das cores

Todo o bom momento econômico no Brasil, faz com que nossos olhares se voltem cada vez mais para o colorido, para a natureza e até para as artes. O fato de o Rio de Janeiro estar cada vez mais no centro do mundo também reforça essa imagem.

Eu particularmente, sempre fui mais do preto-e-branco, e dias nublados sempre me encheram de alegria. Atualmente a vida carioca e todo esse zeitgeist tem me feito pensar em possíveis combinações de cores, nas roupas e na casa - meu banheiro übber kish é azul calcinha setentista.

A Farm acaba de lançar sua coleção em parceria com a Pantone, e celebram o Outono com muita cara de Primavera pop!


A cor do ano escolhida pela própria Pantone é o Tangerine Tango:
"Honeysuckle, encouraged us to face everyday troubles with verve and vigor. Tangerine Tango, a spirited reddish orange, continues to provide the energy boost we need to recharge and move forward.
“Sophisticated but at the same time dramatic and seductive, Tangerine Tango is an orange with a lot of depth to it,” said Leatrice Eiseman, executive director of the Pantone Color Institute®. “Reminiscent of the radiant shadings of a sunset, Tangerine Tango marries the vivaciousness and adrenaline rush of red with the friendliness and warmth of yellow, to form a high-visibility, magnetic hue that emanates heat and energy.”

E para a inspirar, os blogs Follow the Colours e Ideia Fixa (agradecimento especial à Sartori!) fizeram dois posts para espantar a segunda-feira cinzenta e trazer uma semana mais energética e que possamos celebrar São Jorge 'vermelhantemente'.

O primeiro é um vídeo do festival indiano Holi, que tem o lema "Let the colors shower joy", e a última "edição" aconteceu em março deste ano. O Holi, celebra o bem sobre o mal no início da primavera!


O segundo é o tumblr Landscape Palletes,que mostra a paleta de cores de uma imagem selecionada e prova que a natureza é a própria arte, categorizada ou não.


É interessante notar a harmonia até no inusitado, em situações que antes talvez não prestássemos atenção na possibilidade de combinações que a própria natureza nos mostra melhor que qualquer artista.

10.4.12

Basquiat. In your face!

Não se escolhe o que encanta, inspira ou incomoda, pelo menos não conscientemente.
E uma busca por uma cultura mais marginal, crua e intensa me arrebatou nos últimos tempos, por me fazer entendê-la como mais autêntica.
As primeiras coisas que vi de Jean-Michel Basquiat já me encantaram imediatamente e, acredito eu, o real motivo só conseguiu ser entendido por mim depois de saber alguns fatos sobre sua vida.

A cultura das grandes metrópoles geralmente dá mais valor ao que aparentemente soa como grotesco e marginal, e entende alguma beleza  dali, e vejo a relação de NY com Basquiat dessa maneira.
Expressão quase esquizofrênica e primal que grita por necessidade criativa urgente e a todo custo.  


O fato de ter começado como que num desespero por colocar para fora suas ideias, vomitando frases em muros da cidade e assinando como SAMO (SAM Old shit) me faz lembrar o Gentileza, que pintou sua angústia por um mundo menos agressivo em lugares absolutamente criminosos. Cada um à sua maneira, mas extremamente condizentes com os contextos em que estão inseridos.

Talvez meu encantamento seja pela forma densa como ele se expressa, além de um retrato cru e pueril de seu inconsciente, com uma dose de urgência em meio à drogas e, ao que tudo indica, uma personalidade psicótica.
Aparentemente uma arte desconexa que, assim como o Be-Bop, mostra harmonia num contexto geral, ainda que incongruente.

O coquetel gutural de informações artísticas de uma carreira express, ainda foi abençoado pelo apadrinhamento de Andy Warhol e o tornou ícone pop, junto à Harring e Madonna.


4.4.12

Nan Goldin e o MMA



Quem decide o que é polêmico?

Pode soar modernexismo da minha parte, mas a questão é que não entendo como amor pode ser polêmico e Multiple Martial Arts têm que descer pela minha goela junto com a cerveja do meu happy hour.

A exposição na Nan Goldin foi censurada pelo Oi Futuro e o MAM a recebeu de braços abertos e uma nota de inadequação para menores de 18 anos.
Polêmica, transgressora, submundana, suja, subersisva, etc etc etc foi tudo o que ouvi dos mais puretas e no entanto vi uma exposição linda.

Obviamente registros pálidos de uso explícito de heroína não combinam com o pôr do sol outonal do Aterro do Flamengo, muito menos com uma excursão escolar - o que talvez faça com que a nota "quase censura", seja até de bom tom para os desavisados.
Mas no geral, tudo o que vi foi uma exposição sensível e que questiona nossos valores lationamericanos, católicos e repressores sobre como vivemos nosso amor, nosso corpo, o sexo e a catarse nossa de cada dia.
Talvez seja necessário menos socos e chutes nos telões LCD/Plasma/LED, que são exibidos com todo o orgulho pequeno-burguês da nova classe C brasileira em seus botecos e quiçá casas noturnas, e mais arte, mais amor, mais questionamento e inspiração entre brindes.
Esse pensamento classe média de que "porradaria entre macho" pode até ser apresentado pela Sandy, mas casais se amando ficam jogados no submundo de uma sala escura de um Museu de Arte Moderna sendo cultuado como "manifestação do MalDito" não me soa coerente.
Nem tanto sangue nem tanto tabu, por favor.
Comecei a crer por alguns instantes, que as "frases de efeito" de Caio Fernando de Abreu, tão reproduzidas nas minhas telas de redes sociais, tivesse começado a fazer algum efeito no conceito defasado de "inadequação" da nossa classe média.
Mas pelo visto, os morangos do Orkut não estão mofados e a devassa Sandy continua a cantarolar a trilha de abertura do novo reality show de MMA da Globo sem que isso pareça ... harmônico.

22.3.12

Ontem eu descobri um artista


Descobri um artista que me mostrou o quanto eu admiro a linguagem das ruas.
Desde muitos anos me fascino por novas tribos, por música de garagem, por filmes independentes, e hoje em dia mais do que nunca, por arte de rua. 

A arte de rua, me encanta, e não sou do tipo que acha um absurdo grafite ir pra museu. Arte tem que estar em todo lugar. Limitar a arte é alimentá-la.
Esse misto de transgressão, regeneração do depredado, novas possibilidades de olhar, e principalmente da democratização da arte em conjunto com o movimento catártico que ela traz na porta de nossas casas, me fascina e me faz um entusiasta da arte de rua.

O artista em questão se chama JR, é francês, e começou sua carreira depois de ter achado uma câmera no metrô de Paris, misturando "Art and Act".
No ano passado ele ganhou o prêmio do TED que o definiu da seguinte maneira:
"JR exhibits his photographs in the biggest art gallery on the planet. His work is presented freely in the streets of the world, catching the attention of people who are not museum visitors. His work mixes Art and Action; it talks about commitment, freedom, identity and limit. "

Seu último trabalho se chama "Wrinkles of the city", em que ele expõe fotos em que as rugas e marcas de expressão são parte essenciais da comunicação não verbal. As fotos são gigantes e estampadas em prédios de LA, Cartagena e Xangai, a princípio.

Mas o que mais me chamou a atenção foi o Face2Face de 2007, considerado a maior exposição fotográfica ilegal que já existiu, em que JR estampou fotografias enormes de israelitas e palestinos cara a cara (daí o nome) em oito cidades da Palestina e Israel e em ambos os lados da 'cerca de segurança'/'muro de separação'.

Segue o video do TED:

Sim, ele já passou pelo Brasil, e estou torcendo para que passe de novo!!

21.3.12

Céu deita na BR




Esse clipe ilustra muito bem o que eu eu senti quando ouvi já pela primeira vez novo álbum da Céu, Caravana Sereia Bloom..
Cantora de boate de beira de estrada, ainda vagarosa, glamurosa e sensual, sendo vista pelo retrovisor por algum caminhoneiro depois de uma noite de muito Campari e batom no colarinho.

Além desse clipe, a Céu continua com seu pé no reggaeton e slow motion bossa nova quase lounge em muitas das músicas.
É como um passeio pelas BR's do país ouvindo a Tropicália, Jovem Guarda e o Brega, trilha sonora obrigatória em bares de beira de estrada. Entre tanta coisa inconcebível em seus álbuns a princípio, ela manteve sua essência e delícias!

Acho interessante como esses sons têm influenciado a música ultimamente.
Gaby Amarantos é a Beyoncé do Pará.
João Brasil é um dos Dj's mais cool do país.
Céu agora é cantora de boate.
Banda Uó grava até Strokes e The Smiths em eletrobrega e são ovacionados por aí!
Wando virou ídolo depois que morreu.
Bandas como Letuce e, consequentemente, o bloco de carnaval Clementianos, fazem regravações de Brega - incluam no pacote "Brega" pagodes clássicos por favor.

Talvez esse olhar mais voltado para nossa própria cultura nos traga bons frutos futuramente. Ainda que por agora eu perceba um tom muito mais cômico que trágico no revival do brega; transformar lágrimas de amor em purpurina escorrendo pelos olhos, cabelos embaraçados na cabeça apoiada numa parede descascada e um último suspiro de amor antes de dormir, um clichê válido e digno de respeito!